quinta-feira, 27 de novembro de 2008
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Síndrome de Munchausen (por Procuração)
O Síndrome de Munchausen (designação derivada do Barão de Münchhausen, a quem é atribuído uma série de contos fantásticos), pode ser compreendido como um distúrbio psicológico em que o paciente, num acto compulsivo, deliberado e contínuo, origina, provoca ou simula sintomas patológicos, com o único intuito de obter assistência médica e/ou de enfermagem. Igualmente denominada por simulação, é a patologia fictícia com um impacto mais pejorativo, devido à indução de algum sintoma que possa comprometer seriamente a vida do seu portador.
Num panorama mais exclusivo, podemo-nos encontrar perante um tipo específico de Síndrome de Munchausen que se direcciona, com uma grave peculiaridade, às crianças – Síndrome de Munchausen por Procuração. Este síndrome sobrevém quando um parente, geralmente a mãe (cerca de 90% dos casos), de forma sistemática produz, intencionalmente, sintomas no seu filho, colocando-o numa situação de risco (cortes, envenenamentos, queimaduras…) em que seja necessária a intervenção hospitalar.
Este padrão comportamental pode ser desprendido em sujeitos que já experienciaram uma doença grave, em indivíduos que, outrora, foram sujeitos a abusos sexuais e em indivíduos com perturbações de personalidade e / ou perturbações emotivas.
No que diz respeito ao tratamento desta patologia, quando o indivíduo admite a doença (algo que raramente acontece), é aconselhada psicoterapia e acompanhamento farmacológico, nomeadamente antidepressivos, numa primeira fase.
Quando estamos perante um caso de Síndrome Por Procuração é indispensável o retiro da criança do contexto familiar onde o parente portador da doença se encontre.
Tentando alcançar uma abordagem explicativa para esta psicopatologia, diversos são os factores que podem estar na sua génese. Por vezes subsiste, na perspectiva da progenitora, a intenção de conquistar algum proveito pessoal com toda a situação, como por exemplo uma mulher que viva num clima de violência familiar e que deseje chamar a atenção do marido.
Por outro lado, a doença e a hospitalização da criança cria um ambiente psicológico mais confortável para o progenitor ou, ainda, o indíviduo pode manifestar uma percepção alterada da sua sintomatologia e, assim, tenta alcançar uma assistência médica de uma forma compulsiva. Todavia, nos padrões clássicos da doença, a predisposição para provocar a doença não apresenta um objectivo significativamente coerente, não sendo mais do que uma necessidade intrínseca em adoptar o papel de doente ou da pessoa que cuida de um doente (no caso do Síndrome por Procuração).
Um último aspecto a realçar é que nem todos os sintomas são engendrados pelo progenitor. Usualmente, a mãe (ou o pai) limita-se a acumular sintomas às manifestações reais de uma doença que a criança apresenta, ou dando um ênfase maior aqueles que ela já exterioriza.
A título de exemplo tomemos o caso da Rita.
A Rita é uma criança que sofre, unicamente, de asma, todavia a mãe dirige-se ao hospital, exigindo um internamento para a Rita pois a filha apresenta, por vezes, convulsões, hemorragias nasais entre outros sintomas que considere de uma gravidade desmedida.
Para a sinalização desta patologia é necessária uma perspicácia incondicional e mesmo demonstrando a legitimidade de um episódio, é conveniente prosseguir com as investigações de variados eventos para averiguar a coerência entre os dados revelados pelos progenitores e os factos ostentados pelas crianças.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Menino ou Menina: Uma Visão Desenvolvimentista
A diferenciação sexual em mamíferos principia-se na fertilização, com a produção de um dos dois tipos distintos de zigotos: um com um par XX (género feminino) de cromossomas sexuais ou um com par XY (género masculino). É a informação genética do cromossoma sexual que estabelece se o desenvolvimento se efectua num sentido da masculinidade ou da feminilidade.
Todavia, é relevante ter em consideração que o desenvolvimento sexual sobrevém segundo um princípio um tanto para o peculiar – até por volta das 6 semanas de gestação, o ser humano é programado para desenvolver corpos femininos.
Os homens desenvolvem corpos masculinos somente porque o seu programa substancialmente feminino de desenvolvimento é revogado. Este processo encontra-se relacionado com o antigénio H – Y, proteína desencadeada pelo cromossoma Y (através do gene SRY), que faz com que a medula de cada gónada engrandeça e se transforme num testículo.
Comparativamente às divergências que se pode presenciar a nível cerebral em ambos os sexos, verifica-se que o cérebro dos homens e mulheres são semelhantes, contudo não idênticos. Os cérebros dos homens tendem a ser, em média, cerca de 15% maiores. Todavia, isso não os torna mais resistentes. De facto, devido à porção de testosterona com que o feto é envolvido (com quantidades idênticas à de um adulto) ainda no útero materno, tornam-se mais vulneráveis, com maiores probabilidades de sofrerem lesões ou das suas mães abortarem. Esta porção elevada de testosterona provoca, analogamente, um aumento de peso nos bebés, daí os bebés masculinos serem mais pesados que os femininos.
Um outro aspecto relevante de se elucidar advém do facto de com ¼ da porção cerebral com que o ser humano nasce, os bebés do sexo feminino são, inequivocamente, mais maduros que os do sexo oposto e, similarmente, mais atenciosos.
Diversas foram as experiencias efectivadas em torno das diferenças de género. Uma delas consistia, essencialmente, em a mãe do bebé colocar o seu filho numa divisão disjunta do compartimento onde esta se encontrava por uma pequena parede. Posteriormente a esta pequena separação da sua mãe, observou-se uma diferença particular, a nível de géneros, no que respeita à reacção a níveis de frustração. Enquanto que os rapazes, com um nível de autonomia mais desembotado, tentavam passar para o outro compartimento onde a mãe se encontrava (tentando saltar a parede, por exemplo), as raparigas limitavam-se a ficarem imóveis a chorarem, na esperança que alguém as auxiliasse.
Uma outra experiencia consumada, esta realizada com crianças de 3 anos, baseava-se no experimentador conceder à criança uma boneca defeituosa em que, quando esta lhe pegasse, cairia uma perna. Relativamente aos sentimentos vivenciados pelas crianças, constatou-se que enquanto as meninas declaravam um instinto de culpa e de cuidado (atribuíam a queda da perna da boneca a uma causa interna), os rapazes, por sua vez, não se preocupavam em consertar a boneca por considerarem que a culpa não era deles (atribuição a uma causa externa). A chave para que as raparigas experienciem esse certo cuidado e estima pelos objectos e consigam estabelecer uma grande empatia com as pessoas, reside na produção de uma hormona – a oxitocina, cuja função é a de fomentar as contracções uterinas no decorrer do parto, ejecção do leite aquando a amamentação, assim como o desenvolvimento da empatia. Daí se referir que enquanto os rapazes tentam perceber como as coisas funcionam, as raparigas tentam perceber como as pessoas funcionam.
Helen Fisher, antropóloga da Universidade Rutgers, dedicou-se, ao longo de 20 anos, aos estudos das diferenças de género e aos mecanismos que se encontram na base das mesmas. Já nos tempos primórdios que os homens se devotavam à caça e à protecção enquanto que às mulheres competia a procura de raízes para comerem, cuidar dos filhos, etc. Para cuidar dos seus filhos utilizavam, essencialmente a linguagem, (daí o estereotipo referente às mulheres verbalizarem mais do que os homens – entenda-se que não era um comportamento propriamente adaptativo no decorrer de uma caçada).
No campo da memória e das percepções, podemos salientar, igualmente, algumas diferenças entre homens e mulheres. A favor do género masculino consideram-se as tarefas viso – espaciais, tarefas espacio – temporais e testes de raciocínio mecânico. A favor do género feminino, apontam-se as tarefas verbais e algumas tarefas de memória.
Relativamente à organização cerebral e à psicofisiologia, subsistem dados de idêntica pertinência quando se trata de debater as discrepâncias de género. Devido a possuírem um cérebro mais compartimentado e lateralizado (os dois hemisférios não se encontram bem conectados), os homens dispõem de uma peculiar dificuldade em transmitirem as suas próprias emoções. Facto contrário nas mulheres que, por possuírem um istmo cerca de 10% mais espesso que os homens, para além de lhes ser mais fácil a transmissão de emoções, também conseguem ostentar uma multifuncionalidade, ou seja, conseguem realizar diversas tarefas no mesmo espaço de tempo.
Ainda no domínio da psicofisiologia, é um facto consumado de que o cérebro masculino exibe entre 10 e 20 milhões de neurónios a mais do que o cérebro feminino. No entanto, devido à existência de 100 bilhões de neurónios, pode-se referir que essa diferença morfológica é relativamente diminuta. Tal facto compromete uma menor especialização cerebral por parte da mulher nas funções superiores, como a linguagem e a inteligência espacial.
Um último aspecto, e o mais curioso, relativamente às diferenças de género, advoga que as crianças expostas a uma dose maior de testosterona propendem a ter dedos anelares mais compridos e as expostas a uma dose superior de estrogénios dispõem de um dedo indicador mais longo. Um estudo, que abarcou 75 crianças de sete anos de idade, desvendou que crianças com o dedo anelar mais estreito comparativamente ao indicador, manifestaram resultados mais satisfatórios em testes de linguagem do que de matemática. Constatou-se, de igual forma, que os futebolistas apresentam um dedo anelar significativamente maior do que o indicador, anunciando, assim, que foram expostos a níveis elevados de testosterona aquando o seu desenvolvimento fetal.
Numa análise mais pessoal, a apreensão de todas estas vicissitudes apresentam um certo grau de importância, na medida em que para apreendermos o desenvolvimento humano na sua concepção, é conveniente que se esteja consciencializados de todas estas diferenças para não se tecerem juízos erróneos acerca, a título de exemplo, de uma determinada capacidade cognitiva (e.g. julgar o Rui, de 12 anos, mais inteligente que a Maria da mesma idade, por este desempenhar tarefas que assentam num raciocínio mecânico mais rapidamente, e de um modo mais eficaz, do que a Maria).
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Comunicação e Profecia Humana
Desde de longa data, no seio das terapias sistémicas, que a comunicação apresenta um interesse peculiar a terapeutas familiares, muitos dos quais alargaram teorias relativamente à comunicação humana e à forma como ela pode ser alterada.
Relativamente aos aspectos rudimentares da comunicação humana, evidencia-se, como concepção de base, que é inexequível a não – comunicação. Todo o comportamento que se averigua quando uma pessoa se encontra na presença de outra, difunde algum tipo de mensagem.
Tomemos como exemplo uma criança que, posteriormente a uma repreensão dos seus pais, se senta a um canto da sala e permanece calada. Tal conduta sugere que a criança se encontra, no mínimo, a informar que ficou aborrecida com o repreendimento dos seus pais e, deste modo, não quer estabelecer qualquer tipo de diálogo com eles.
Um outro foco de interesse relativamente à comunicação, diz respeito aos seus aspectos relacionais. As comunicações não se delimitam a propagar informação – esclarecem, igualmente, a conexão entre os comunicadores. Assim expressões como “Pedro, come a sopa toda por favor” e “Importas-te de comer a maldita sopa de uma vez por todas?!”, transmitem ambas a ideia de o indivíduo em causa comer a sopa, todavia a relação definida é bastante distinta.
Um último aspecto que pretendia focalizar relativamente à comunicação humana, advoga que os seres humanos, no decorrer de todo o processo de comunicação, são, de facto, profetas.
"A chamada profecia auto – realizadora é uma consequência da acção dos esquemas sociais. Consiste na exibição de um padrão de comportamentos, que, guiados por esquemas, faz com que a pessoa alvo deste comportamento seja influenciada por ele e responda de forma coerente com as expectativas.” (Jablonski, B.)
A título de exemplo tomemos o caso do João. O João é uma criança de 10 anos que convive num seio familiar regido por padrões inflexíveis e regras familiares conservadoras. Apresenta, a nível geral, um bom rendimento escolar. Todavia, cada vez que chega a casa com um Satisfaz Bem num teste, os pais, ao invés de louvarem o seu bom desempenho, arquitectam um esquema segundo o qual o João é um aluno pouco empenhado e que poderia ter alcançado, perfeitamente, um Satisfaz Muito Bem nas suas provas. Com o decorrer do tempo, o João acaba por se convencer que é, de facto, mesmo pouco empenhado, ficando desmotivado. Tal conduta, associada à baixa motivação que o João manifesta, estimula um decréscimo no seu rendimento académico – confirma-se, assim, a profecia dos pais, que o João não está, de facto, empenhado o suficiente na escola.
Para terminar este post relativamente à comunicação humana, gostaria apenas de deixar um excerto de um conto bíblico redigido pelo escritor Oscar Wilde que retrata, na perfeição, todas estas dualidades da comunicação humana.
“Naqueles dias em que o Cristianismo começava a converter os cidadãos de Roma, alguns dos patrícios ricos começaram a interessar-se por este novo estranho e ascético culto. Por entre aqueles que começavam a ver a sua beleza trágica, encontrava-se uma rapariga chamada Lídia (…) que contra o conselho de todos quantos a conheciam, resolveu aceitar o baptismo de Cristo. (…) Embora o amor que Mettellus sentia por ela lhe queimasse o peito, ele era incapaz de partilhar o entusiasmo dela pela nova fé.
(…) Assim, um dia, Mettelus abeirou-se de Lídia e, ajoelhando-se a seus pés, implorou-lhe que esquecesse a sua fé e viesse com ele para se tornar sua noiva.
- Porque o amor – disse-lhe ele – é melhor que a religião e mais sensato que todas as doutrinas do mundo.
Mas embora o amor de Lídia por Mettelus fosse tão intenso como o de Mettelus por ela, o amor dela por Cristo era ainda maior. (…) Disse-lhe que nunca se podiam casar, a não ser que ele abraçasse a nova fé.
Levado pela paixão inflamada, Mettelus acabou por consentir e ir com Lídia ouvir o que os Cristãos tinham para dizer. Ouviu e (…) tudo aquilo lhe pareceu um grande disparate. Mas o seu amor por Lídia ardia tanto que (…) decidiu aceitar o baptismo de Cristo. E, assim, por uns tempos, foram ambos felizes. Mas (…) as actividades de Cristo chamaram a atenção do cruel imperador e as perseguições começaram. (…) Mettelus e Lídia foram presos com pesadas correntes.
Na solidão e escuro da sua cela, Lídia começava a lamentar tudo o que tinha feito.
- Se calhar – dizia ela – toda a história de Cristo é falsa (…). Como pude ser tão tola?
E na solidão da sua cela, Mettelus pensava “Eu sabia desde início que toda esta conversa ridícula só nos iria trazer problemas (…).”.
(…) Chegou o dia em que cada um foi informado que iriam ser atirados aos animais selvagens do Grande Circo, perante todo o povo de Roma, a não ser que, publicamente, renunciassem à sua fé.
(…) Sozinha na sua cela, Lídia disse para consigo: “(…) Se agora renuncio a Cristo, Mettelus, que acredita com tanto fervor, morrerá desprezando-me e isso não conseguiria suportar”.
E sozinho na sua cela, Mettelus disse para si próprio: “Que problema terrível este. (…) Se o renego agora, a minha querida Lídia, cuja crença na sua fé e na minha é sólida que nem um rochedo, julgar-me-á um cobarde e morrerá desprezando-me, e isso eu não conseguiria suportar”.
E assim, quando o dia marcado chegou, Lídia e Mettelus foram levados das suas celas e atirados aos animais selvagens no Circo, perante todo o povo de Roma.
E foi assim que ambos morreram por uma fé que nenhum deles sentia.”
sábado, 1 de novembro de 2008
Bullying
"Os outros estavam sempre a bater-me na escola. Eu não lhes batia, porque sou contra a violência e porque é contra a minha religião. Era uma vítima por ser gordo e por ter muitas borbulhas na cara. Batiam-me também por causa da minha Igreja e por eu cantar em louvor com duas colegas de outra turma. Chamavam-me nomes e atiravam-me a mochila para fora do autocarro. Estava sempre a perdoar-lhes, mas cada vez era mais difícil aceitar. Não sabia o que fazer e comecei a tirar más notas, a ter pesadelos e a não querer ir à escola. Tinha pânico quando a segunda-feira chegava. Agora estou a ter um psicólogo das vítimas. O meu pai decidiu que eu podia mudar de escola e eu estive de acordo (…)."
Rodrigo, 13 anos
Bullying é um padrão comportamental que pode ser definindo como repetido ataque físico, psicológico, social ou verbal por aqueles que se encontram numa postura de poder – formal ou situacionalmente delimitada – aos que não exteriorizam uma idoneidade de resistir, com o intento de fomentar mal – estar para sua própria vantagem ou gratificação. É caracterizado por ser um acto ininterrupto e não ocasional. Um outro aspecto para se ter em conta ao catalogar um comportamento ofensivo em bullying é que ”ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas” (exemplo, estatura física), como refere Dan Owelus, cientista norueguês.No plano estatístico, estima-se que 1 em 4 alunos encontra-se circundado em comportamentos de bullying e, apesar de toda a violência testemunhada, 70% dos colegas observadores nada fazem, com o receio, muitas vezes, de serem, posteriormente, alvos de tal prática.
Relativamente às suas características, podemos mencionar que:
- É uma forma de agressão pró – activa
- Traduz uma relação desigual de força: não se qualificam como bullying conflitos e agressões que sucedem entre alunos com a mesma capacidade física, social ou mental
- Fomenta dano, temor, perturbações ou injurias às vítimas, induzindo sentimentos de inferioridade
- Pode ocorrer no plano virtual (ciber bullying): nestes casos, o agressor não tem de ser, forçosamente, mais forte, no plano físico, do que a vitima
- Adopta um carácter repetitivo ao longo do tempo. O critério de frequência da vitimização varia de acordo com os estudos: algumas vezes por ano; três vezes no mínimo num dado período; uma ou mais vezes por semana.
Em termos genéricos das práticas ofensivas, o bullying decompõe-se, essencialmente, em duas categorias: bullying directo (que afigura comportamentos como violência, roubo, destruição de pertences e insultos - forma mais trivial entre os bullies masculinos) e bullying indirecto (onde no qual se incluem a maledicência, rejeição social e ostracismo - comportamento mais alegórico dos bullies femininos).
No domínio da classificação dos diversos agentes que integram a pratica do bullying, far-se-á alusão aos próprios bullies, às vítimas em causa e, não menos relevante, aos observadores de todo este modelo comportamental.
Relativamente aos tipos de Bullies, podemos mencionar, significativamente, 3 padrões:
- Agressivos: desencadeiam a agressão; ameaçam e intimidam para atingir objectivos; não ostentam consciência dos sentimentos negativos dos seus colegas
- Passivos: são os conhecidos “seguidores”; não desencadeiam o bullying, contudo reproduzem o comportamento do bully agressivo. Encontram-se nesta classificação as crianças com um perfil ansioso e inseguro.
- Relacionais: comportamentos de agressão / rejeição social
Quanto à tipologia das vitimas podemos classifica-las em:
- Passivas: podem exibir particularidades que as tornam alvo condescendente de agressão (exemplo: cor de pele, alguma deficiência perceptível, etc.)
- Provocatórias: sabem estritamente como estimular a agressão por parte do bully (comportamentos desajustados). Apresentam um maior risco de suicídio
- Relacionais: neste conjunto incluem-se as crianças abrangidas por relações que não conseguem controlar
Por último, os observadores de toda a problemática podem ser sistematizados em dois parâmetros peculiares:
- Como fazendo parte do problema: observam, instigam, manifestam medo
- Como fazendo parte da solução: tentam diligenciar ajuda
Centralizemo-nos, agora, nos traços basilares específicos das vítimas de agressão e dos bullies. Relativamente às características físicas, os bullies, usualmente, aduzem uma grande robustez, aptidão para o desporto, entre outros aspectos. Quanto ao autoconceito, o bully apresenta, vulgarmente, um autoconceito mais positivo do que o da vitima, que, se vai fragilizando temporalmente. No que diz respeito à idoneidade autocrítica, esta encontra-se expressivamente deteriorada na self do bully. Remetendo para o contexto familiar, os bullies deparam-se, maioritariamente, em contextos familiares desorganizados, onde se advoga a submissão por parte dos outros.
Várias são as consequências que o bullying pode acarretar, seja no domínio do self da vítima seja na estruturação cognitiva do próprio bully. As vítimas exibem, comummente, quadros depressivos, baixa auto-estima, somatização, perturbações do sono, enurese, denegação em ir à escola, abandono escolar, poucos amigos, homicídio, suicídio. Quanto aos bullies, declaram fortes probabilidades de incrementarem futuros comportamentos desviantes ou de abraçarem trajectórias delinquentes.
Um dado que pondero ser proeminente, é o facto de 6% das vítimas desta pratica agressiva, convertem-se, tardiamente, em agressores. Esta motivação associa-se com a aspiração de conquistar o poder do agressor e/ou por considerar que o agressor não se encontra totalmente desacertado nos seus comportamentos (pensamentos como “eu até sou gordo…”; “eu até sou pobre…”, são frequentes por parte das vitimas).
Um outro aspecto que gostaria de acentuar é o quanto a pratica de bullying, enquanto concepção, é ainda negligenciada no seio nacional. Encaro que uma grande porção da população (onde abarco pais, professores…) exibe um contacto com bullying (seja um filho seu ou um aluno) a partir da percepção de que tal prática não vai para além de mais uma etapa normativa do desenvolvimento infanto – juvenil.
Não é assim tão disparatado quando nos confrontamos com diversas situações irrisórias de um aluno, vítima de bullying, ir fazer queixas a um professor ou a um auxiliar educativo e, como contestação, ouvir um “não sejas queixinhas”. Todavia, quando, porventura, os professores decidem atender às queixas dos alunos, tendem a punir os agressores com práticas educativas um tanto para o ridículas – escrever, a titulo de exemplo, 100 vezes numa folha “não volto a bater no meu colega”. Não é, então, com surpresa, que assistimos a um acréscimo da prática de bullying por parte deste agressores, tendo em vista que a punição (demasiado behaviorista) consumada é demasiado baixa comparativamente ao prazer de humilhar o seu colega. A repetição de um padrão comportamental não chega, de todo, para modificar uma determinada atitude.
No plano de intervenção, várias são a estratégias que se podem adoptar para o combate a esta pratica delituosa:
- Identificação com o fenómeno: considero este aspecto como a primeira etapa, e das mais valorizadas, para contender contra o bullying. Não é exequível fazer frente a algo que se desconhece. É, assim, de extrema relevância organizar acções de formação (tanto para pais, professores, como para as próprias crianças) com o intuito de elucidar o que é, afinal, o bullying, como se exterioriza, sinais de alerta, características e consequências.
- Implementar programas de promoção pessoal e social
- Ao invés da suspensão dos bullies, seria mais conveniente que estes executassem tarefas do âmbito escolar (coadjuvar os auxiliares de educação, por exemplo, nas suas funções). Ao realizarem este tipo de trabalhos, além de apreenderem que os actos arrastam consequências severas, desenvolveriam uma visão mais sucinta do que é estar do lado da vitima (este tipo de tarefas são encaradas pelos agressores, muitas vezes, como humilhantes)
- Motivar os bullies para participarem em projectos escolares frutuosos e de algum interesse pessoal (dança, teatro, musica), o que levaria a uma modificação de comportamento mais lucrativa
No plano nacional, o bullying ainda não se pode considerar como uma problemática de grande incidência, todavia ostenta uma intensa tendência a aumentar, acompanhada cada vez com mais seriedade.
É indispensável que, desde os primórdios da acção educativa no desenvolvimento infantil, se principie, assim, uma sensibilização os jovens para este tipo de comportamentos, direccionar uma maior atenção para as famílias disfuncionais, que muitas vezes concebem este tipo de condutas, e, por último, investir um pouco mais em programas psicoeducativos, seja no âmbito da formação de professores como em tarefas de promoção pessoal e social nas salas de aula.
Num panorama mais pessoal, a situação da Educação em Portugal, analogamente a tantos outros domínios, não se encontra num nível razoavelmente satisfatório, todavia se não negligenciarmos esta problemática em torno de todas estas questões, muito pode ser feito, ainda que a longo prazo.