sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Comunicação e Profecia Humana


Desde de longa data, no seio das terapias sistémicas, que a comunicação apresenta um interesse peculiar a terapeutas familiares, muitos dos quais alargaram teorias relativamente à comunicação humana e à forma como ela pode ser alterada.

Relativamente aos aspectos rudimentares da comunicação humana, evidencia-se, como concepção de base, que é inexequível a não – comunicação. Todo o comportamento que se averigua quando uma pessoa se encontra na presença de outra, difunde algum tipo de mensagem.

Tomemos como exemplo uma criança que, posteriormente a uma repreensão dos seus pais, se senta a um canto da sala e permanece calada. Tal conduta sugere que a criança se encontra, no mínimo, a informar que ficou aborrecida com o repreendimento dos seus pais e, deste modo, não quer estabelecer qualquer tipo de diálogo com eles.

Um outro foco de interesse relativamente à comunicação, diz respeito aos seus aspectos relacionais. As comunicações não se delimitam a propagar informação – esclarecem, igualmente, a conexão entre os comunicadores. Assim expressões como “Pedro, come a sopa toda por favor” e “Importas-te de comer a maldita sopa de uma vez por todas?!”, transmitem ambas a ideia de o indivíduo em causa comer a sopa, todavia a relação definida é bastante distinta.

Um último aspecto que pretendia focalizar relativamente à comunicação humana, advoga que os seres humanos, no decorrer de todo o processo de comunicação, são, de facto, profetas.
"A chamada profecia auto – realizadora é uma consequência da acção dos esquemas sociais. Consiste na exibição de um padrão de comportamentos, que, guiados por esquemas, faz com que a pessoa alvo deste comportamento seja influenciada por ele e responda de forma coerente com as expectativas.” (Jablonski, B.)

A título de exemplo tomemos o caso do João. O João é uma criança de 10 anos que convive num seio familiar regido por padrões inflexíveis e regras familiares conservadoras. Apresenta, a nível geral, um bom rendimento escolar. Todavia, cada vez que chega a casa com um Satisfaz Bem num teste, os pais, ao invés de louvarem o seu bom desempenho, arquitectam um esquema segundo o qual o João é um aluno pouco empenhado e que poderia ter alcançado, perfeitamente, um Satisfaz Muito Bem nas suas provas. Com o decorrer do tempo, o João acaba por se convencer que é, de facto, mesmo pouco empenhado, ficando desmotivado. Tal conduta, associada à baixa motivação que o João manifesta, estimula um decréscimo no seu rendimento académico – confirma-se, assim, a profecia dos pais, que o João não está, de facto, empenhado o suficiente na escola.

Para terminar este post relativamente à comunicação humana, gostaria apenas de deixar um excerto de um conto bíblico redigido pelo escritor Oscar Wilde que retrata, na perfeição, todas estas dualidades da comunicação humana.

“Naqueles dias em que o Cristianismo começava a converter os cidadãos de Roma, alguns dos patrícios ricos começaram a interessar-se por este novo estranho e ascético culto. Por entre aqueles que começavam a ver a sua beleza trágica, encontrava-se uma rapariga chamada Lídia (…) que contra o conselho de todos quantos a conheciam, resolveu aceitar o baptismo de Cristo. (…) Embora o amor que Mettellus sentia por ela lhe queimasse o peito, ele era incapaz de partilhar o entusiasmo dela pela nova fé.
(…) Assim, um dia, Mettelus abeirou-se de Lídia e, ajoelhando-se a seus pés, implorou-lhe que esquecesse a sua fé e viesse com ele para se tornar sua noiva.
- Porque o amor – disse-lhe ele – é melhor que a religião e mais sensato que todas as doutrinas do mundo.
Mas embora o amor de Lídia por Mettelus fosse tão intenso como o de Mettelus por ela, o amor dela por Cristo era ainda maior. (…) Disse-lhe que nunca se podiam casar, a não ser que ele abraçasse a nova fé.
Levado pela paixão inflamada, Mettelus acabou por consentir e ir com Lídia ouvir o que os Cristãos tinham para dizer. Ouviu e (…) tudo aquilo lhe pareceu um grande disparate. Mas o seu amor por Lídia ardia tanto que (…) decidiu aceitar o baptismo de Cristo. E, assim, por uns tempos, foram ambos felizes. Mas (…) as actividades de Cristo chamaram a atenção do cruel imperador e as perseguições começaram. (…) Mettelus e Lídia foram presos com pesadas correntes.
Na solidão e escuro da sua cela, Lídia começava a lamentar tudo o que tinha feito.
- Se calhar – dizia ela – toda a história de Cristo é falsa (…). Como pude ser tão tola?
E na solidão da sua cela, Mettelus pensava “Eu sabia desde início que toda esta conversa ridícula só nos iria trazer problemas (…).”.
(…) Chegou o dia em que cada um foi informado que iriam ser atirados aos animais selvagens do Grande Circo, perante todo o povo de Roma, a não ser que, publicamente, renunciassem à sua fé.
(…) Sozinha na sua cela, Lídia disse para consigo: “(…) Se agora renuncio a Cristo, Mettelus, que acredita com tanto fervor, morrerá desprezando-me e isso não conseguiria suportar”.
E sozinho na sua cela, Mettelus disse para si próprio: “Que problema terrível este. (…) Se o renego agora, a minha querida Lídia, cuja crença na sua fé e na minha é sólida que nem um rochedo, julgar-me-á um cobarde e morrerá desprezando-me, e isso eu não conseguiria suportar”.
E assim, quando o dia marcado chegou, Lídia e Mettelus foram levados das suas celas e atirados aos animais selvagens no Circo, perante todo o povo de Roma.
E foi assim que ambos morreram por uma fé que nenhum deles sentia.”


6 comentários:

Anónimo disse...

So posso dizer que é mesmo impotante a comunicaçao, nao sao nas relaçoes sentimentais, como nas familaire. e como muito bem sabemos a falta de comunicaçao, constitui um dos proncipais barreiras a resoluçao de problemas! e sabemos também o como é dificil por vezes comunicar... mas pronto, para isso ca estamos nos
(posso nao escrever tao bem, mas contribui)

Psykhe disse...

É, realmente, um entrave a muitas relações interpessoais e, muita das vezes, às proprias relações intrapessoais. Constitui, assim, um desafio tentar compreender quais as estrategias e os motivos que as pessoas adoptam para tentar criar a tal barreira de comunicaçao a que te referes.
Contruibuis sempre :)

Ana Sousa disse...

Muito obrigada pelo seu comentário. Queria também dar-lhe os meus parabéns pelo seu blog, tem ideias muito interessantes. Um projecto a continuar!

Psykhe disse...

Agradeço o seu incentivo :)
Cumprimentos

Anónimo disse...

Muy interesante el carácter que tiene y me gustaría incluirlo, con su permiso de curso? Gracias

? disse...

I will put you down as Plato